sábado, 5 de maio de 2007

Escrever é reescrever


Cambaleante pela bebedeira, o intelectual chega em casa no meio da madrugada. Em uma espécie de transe, metralha a sua máquina de escrever. No outro dia, entre as bitucas de cigarro, lê passagens geniais que juntas com outras resultam em um livro soberbo, uma obra mestra da literatura.

A narração acima é a mais pura ficção. Mas muitos acreditam que os escritores são seres inteligentíssimos que são tomados por arroubos de criatividade. Tem um "dom".

A realidade é bem diferente do outro lado dos livros. Escritores escrevem. Reescrevem. Revisam. Reescrevem de novo. Alguns de maneira dolorosa, como Guimarães Rosa. Outros mais brandos, como o poeta símbolo e supra-citado de Curitiba, Paulo Leminski. A verdade, por menos romântica que pareça, é que escrever envolve imediatamente reescrever.

Por menos natural que pareça, as entranhas do escritor segue lá. Ainda quem corta, reescreve, adiciona, muda é o autor - pelo menos assim se supõe.

Em nosso caso, o processo é dos duros. Ordenar as idéias dos entrevistados, fazer com que a conversa não caia em redundância e outros fatores que já mencionamos antes. Só que ao contrário da degravação bruta, aqui passamos um pente fino mesmo. Mais: a entrevista por mais alterada que esteja tem que fluir como uma conversa normal ou a verossimilhança vai para o espaço. A partir do momento que você entende o objetivo, vira um trabalho operário.


A partir do momento que assumimos e passamos a divulgar o projeto, muitos amigos e conhecidos declararam que sempre quiseram escrever algo. O que os afastava, na maioria dos casos, é esta maldita mística que inventaram para o ofício.

Nós não fumamos, escrevemos diretamente no computador (apesar das ilustrações ressaltarem outra coisa), consultamos o dicionário e os manuais de redação da Folha ou do Estadão e trabalhamos sóbrios - pelo menos a maior parte do tempo. Acredite, escrever é reescrevr. Opa, reescrever.

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