quinta-feira, 31 de maio de 2007

Oilman se compara com um...

Há alguns dias escrevi do Top 5 das edições mais complicadas. Oilman pode entrar nesse ranking. Mesmo tendo que botar fora un 40% da entrevista - para dar uma idéia, a bruta era de 35 páginas - tem muitas frases interessantes. Há muitos mitos sobre o Oilman, talvez estas citas ajudem a esclarecer quem realmente ele é.

Pode ser caracterizado como uma sociopata também. E todo sociopata geralmente duram pouco tempo, já era. Não existe outro igual. Eu já fui comparado com o Sombra – pobrezinho, não sabe nem escrever o nome -, com a Borboleta 13, não tem nada a ver.

É uma comprovação que eu sou o cara que tem alguns problemas mesmo, porque eu penso só em coisa negativa, só nos meus inimigos me agredindo. Seria um tipo de paranóia, como a paranóia do presidente americano. O presidente americano não pode nem ouvir pensar em um país que esteja produzindo ou mexendo com substâncias radioativas que ele já pensa em bomba atômica. Então ele já tem uma paranóia. O Oilman é a mesma coisa. Tem uma paranóia eu cuido, tenho muito cuidado. Existe um ditado, eu não preciso ser um cara metido a erudito, tem aquele ditado: “Macaco velho não cai em cumbuca”. Ou “Gato escaldado tem medo de água fria”. Quer dizer, eu já sofri aquele negócio. Agora eu me cuido".

O povão quer a coisa mais mastigada, mais simples. É difícil que a pessoa consiga assimilar alguma coisa, que vá de encontro com a minha expectativa. Tem gente que reconhece um valor. Mas o que eu sinto mesmo é uma consciência coletiva agressiva e intolerante. Por isso você vê muito herói morto. Tiradentes morto, aquele médico da Colômbia... não me lembro agora. Então os heróis mortos, porque o povo não aceita muito heroísmo e não entende.


Eu estou vivendo a minha vida, como se fosse um leão numa savana, um animal no seu eco sistema.

Por isso que essas histórias de fama, de exemplo, não existe para mim. Como aconteceu na Oceania, que as espécies ficaram isoladas quando os continentes se separaram a milhões de anos. Os mamíferos são todos marsupiais. Não existem quase mamíferos marsupiais. Ornitorrinco, tem o bico de pato, eles poem ovos, o canguru é marsupial, ele tem uma bolsa. O Kiwi, é uma ave que tem pelos. Só animais exóticos existem na Oceania, pelo isolamento geográfico. Aqui em Curitiba o Oilman está na mesma coisa.


Como tinha aquela rainha da Espanha, não sei se era da Espanha, a Maria Louca. Tudo que acontecia errado era culpa dela. Porque ela cometia atos, era doente mesmo. No meu caso também, mesmo que não tenha participado posso arcar com negócio no futuro.


Porque a pessoa convive com o Oilman há tantos anos que não imagina aquele. Ou tinha gente que achava o Oilman não um ícone de liberdade, de esporte, ou o que fosse um ícone de protesto. Você imagine o estágio mental de uma pessoa que está fazendo protesto por 15 minutos. Vamos dizer... Eva Perón. Na época que ela governava, existia algum problema político? Existia. Imagina alguém protestando contra ela por 15 minutos. Ele está alterado. Imagine por dez anos. É impossível, porque essa pessoa que estava fazendo o protesto passa a função para outro. Ela não vai agüentar.

Resumindo, o Oilman se comparou com: um psicópata, o presidente americano, o Tiradentes, um leão na savana, as espécies em extinção da Oceania, uma rainha da Espanha e com a Eva Perón. Aliás, esta última nunca governou o pais.

Obcecados pelos números

Tanto João como eu somos fanáticos das estatísticas. Todos os dias acessamos a Google Analytics, que nos dá um relatório completo de tudo o relacionado ao Blog do Curitibocas. Por exemplo, um dato interessante é que ao dia de hoje (com só dois meses de vida) o site já teve 2.287 visitas e 4.150 pageviews.


Várias vezes mencionamos a política de "1 post por dia". Mesmo cumprindo essa regra quase chegando à meia noite, sempre tem textos atualizados. E as estatísticas também se aplicam. No mês de maio tivemos um 10% de aumento de posts. Em abril escrevemos 70, em maio 77.

Acabamos nos dedicando muito para fazer do espaço virtual algo interessante e atraente para os que acompanham nossa luta com o livro. Será por isso que prestamos tanta atenção aos números. Claro, a quantidade não é completamente objetiva . Mas pelo menos é um bom incentivo para acreditar em que Curitibocas é bem recepcionado por vocês, e continuar trabalhando com ainda mais força.

Orkut estréia leitor de RSS

O Orkut ganhou nova funcionalidade. Agora é possível exibir feeds na página inicial do Orkut de sítios com funcionalidade RSS.

Para isso, basta clicar em "edit feeds", novo botão localizado na barra esquerda.

Os curitibocanos podem colocar o endereço http://curitibocas.blogspot.com/feeds/posts/default - feed deste querido blog.

Depois de linkado, o Orkut exibirá um link para o conteúdo do blog. Quem acessar, verã uma tela mais ou menos assim:

As 10 entrevistas + constrangedoras


A Bizz fez um ranking das entrevistas mais constrangedoras do meio musical - tanto para jornalistas quanto para as celebridades. Estão disponíveis os vídeos dos micos.

Erros comuns e recorrentes da profissão - já tratados aqui - são explicitados nessa matéria de Tatiana Azevedo. Agora atenção para os erros dos entrevistados, que podem dizer muito mais do que as próprias respostas. A briga entre os integrantes do Kiss mostra muito mais do que as tontas perguntas feitas para eles.

Eu não devo falar disso aqui neste blog, mas...


Devo ou não devo?
Devo ou não devo?

Foda-se.

TRICOLOOOOOOOOOR
TRICOLOOOOOR
TRICOLOR-TRICOLOR-TRICOLOR
LA-LA-IAAAAAAAA-LALAIA-LA
TRICOLOOOOOORRRR
TRICOLOOOOOOOORRRR
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Grêmio 2 x 0 Santos

quarta-feira, 30 de maio de 2007

To com fomeeeeeeeeeeeeeeeee

Como visto no último post, enfrentamos o frio com o conforto. Fiz queixa do frio, Cecilia prontamente trouxe luva e cachecol. Fome, ela foi para cozinha fazer saborosíssimas panquecas com doce-de-leite argentino.

"Porco machista", "explorador de mão-de-obra extrangeira", pensarão alguns incautos leitores. Convido a uma viagem ao passado.
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Em 1999, comecei a trabalhar como office-boy na Natupharma. A equipe era composta de oito belas jovens (do tempo que eu era feliz e não sabia). Depois de um mês, passados os embaraços iniciais, elas tomavam a liberdade de me pedir para pagar suas contas pessoais, devolver fita na locadora, imprimir trabalhos para o colégio, entre outros favores pessoais.

Sentia que era explorado. Levei minha queixa à minha guru espiritual e chefa Simone Minghelli. Com calma, explicou o óbvio. Resumo: se elas se afastam da posição, a farmácia perde produtividade. Eu, ajudando que elas se mantivessem em suas especialidades, ajudava todo o conjunto.
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A Cecilia ao me servir, está ajudando o trabalho todo. Eu dou a editada final. Se eu saio, a coisa pára. Ela livre pode ajudar com as minhas necessidades, tipo fome e frio.

Em tempo: quando eu estou livre também ajudo ela. Isso é trabalho em equipe, sem egolatria ou disputas infantis.

Música clásica e chimarrão

A redação de Curitibocas é fora de série. Na maioria dos casos, trabalhamos no departamento de João. O contexto ajuda, tem conexão para os dois computadores, comida quando ataca a fome e uma janela onde entra o sol - não é um detalhe menor, faz muito frio em Curitiba.

Tem dias que a concentração de ambos alcança seu pico máximo. Não sempre acontece porque um dos autores tem uma tendência a se dispersar rapidamente. Mas hoje estamos trabalhando a um bom ritmo. Reina o silêncio na residência dos Varella.

Para que a edição das entrevistas fique ainda melhor, estamos desenvolvendo certos hábitos. Um, é escutar música clássica (parece esta costume já era praticada pelo João). Dois, ter cobertores e mantinhas perto. A razão é simples, é terrível trabalhar com frio. Três, tomar chimarrão, ou mate como dizemos no meu pais.

Parecem detalhes, mas quando as condições não estão certas, dificilmente pode sair algo bom de nossas cabeças. Sem mais excusas, volto a minha edição.

terça-feira, 29 de maio de 2007

Com vocês, Ivo Rodrigues

Seu Ivo Rodrigues é uma figura. No começo se mostrou resistente a nossa proposta. Um claro exemplo disto foi a entrevista, realizada em dois encontros. Sem possibilidade de objetar, o lugar era sempre o mesmo: o bar Jacobina.

Contrário a outros entrevistados, o músico era de fácil acesso. Um 90% das vezes que liguei para sua casa, ele respondeu. Estes últimos dias na tentativa de marcar uma reunião, foi fiel a seu estilo diplomático. Com um tom meio simpático, se resistia a almoçar conosco, a tomar um café, basicamente, a tudo o que não seja o bar Jacobina ou o Hermes. Desistimos e marcamos o encontro onde o rock star queria.

Hoje às 10.30 h chegou e para seguir ele até o Juca. Pedalando, nos perguntávamos aque se referia com esse nome. Formulamos várias teorias, mas a poucas quadras chegamos ao boteco Juca.

Leu a entrevista. Não censurou as partes de droga e álcool, como tinha ameaçado. Logo disse que fizemos um muito bom trabalho, nos deu seu parabéns e convidou para tomar uma cerveja um outro dia. Que cara extranho. Ele que primeiro se resistiu tanto, mostrou sua cara amigável.

Mas agora está tudo certo. Temos sua aprovação, que comece o show.

Ivo aprova participação no Curitibocas

Acabaram-se as preocupações legais com o livro. Ivo Rodrigues, vocalista da banda Blindagem, leu e aprovou sua entrevista. "Está muito bom", repetiu enquanto lia. Pediu algumas pequenas retificações em alguns trechos que envolviam terceiros: a família de Paulo Leminski, os bateristas da banda, Pato e Marinho Bocão, e seus médicos.

Isso vai ao encontro do que dissemos antes sobre Ivo. Ele tenta estar na boa com todos. O trecho com o atual baterista da banda, Pato Romero, ele pediu que fosse omitido a ironia que fez. Na entrevista, Ivo trocou o apelido por "Chato" Romero. "Ele pode não entender".

O encontro teve um lugar diferente das outras vezes. Marcamos mais uma vez no Bar Jacobina. Ivo chegou no horário marcado com seu fusca e resolveu mudar o local da conversa. Fomos no Bar do Juca, um boteco bem tradicional. Lá ele colocou seus óculos e leu a entrevista. Tomamos uma Skol.

Ivo ficou com uma cópia da entrevista. Anotamos todas as modificações que ele quis fazer. O teor da entrevista não foi alterado. "Parabéns, vocês tem um humor bem refinado", disse na despedida. Um auto-elogio disfarçado, bem ao estilo Rodrigues.

segunda-feira, 28 de maio de 2007

Guia de entrevistas X - Época


A última da página da Época é mutante.

A melhor fase foi com o Xongas, do Ricardo Freiro.

Agora fazem uma entrevista curta com perguntas gerais.

Respostas curtas, a maioria sem réplicas ou profundidade.

Curioso. Morno.

Época - revista semanal.

Ivo Rodrigues em detalhes


A situação é diferente, mas é irresistível fazer uma analogia.

Recapitulando: Roberto Carlos entrou com uma ação proibiu a comercialização de sua mais recente biografia. O livro "Roberto Carlos em Detalhes" é de autoria do historiador Paulo César de Araújo, fã confesso do rei.

Robertão não gostou dos detalhes compilados no livro - todos de conhecimento do publico, o historiados fez sua pesquisa em arquivo. Não se sabe o que fazer com os livros que deverá ser recolhido. As livrarias estão queimando estoque em sentido figurado. Provável que os livros sejam queimados no sentido literal.

Nossa situação é diferente.

Antes de ser publicado o livro, Ivo se queixa. É uma queixa estranha. Diz o que pode e o que não pode ser publicado do que ele mesmo falou. A razão dele é por um material inédito que está por sair de sua carreira, tema dominante da conversa.

Não quero me indispor com algum entrevistado. Corremos o risco que aconteça o mesmo trágico destino de "Roberto Carlos em Detalhes". Censurado. Proibido. Histórico. Chamativo. Best-seller. Lucros crescentes de acordo com a proximidade do deadline.

Marketing?

Amanhã se define o primeiro capítulo

Mesmo tendo escrito já 12 capítulos, o primeiro não deixa de ser um problema. O músico Ivo Rodrigues vai ler e aprovar o conteúdo da entrevista. Já tinha dado várias limitações, especialmente com publicar os temas relacionados à droga. Mas vamos ver o que acontece.

O lugar da reunião vai ser no clásico Restaurante/Bar Jacobina, lugar preferido do Ivo - pela proximidade ou pelo estilo. Tentamos um espaço não tão familiar para o músico mas tivemos que desistir.

Quem queira acompanhar esta micro história de "Por que foi tão difícil entrevistar a Ivo Rodrigues", veja a coluna na direita deste blog e faça "click" no nome Ivo. Este é o oitavo post no assunto.

A hora e a vez das aspas diretas na frase


Como dito antes, li "Lennon Remembers", uma grande entrevista dada pelo cantor ao jornalista da Rolling Stone Jann S. Wenne. Nas citações que o entrevistado faz, não vão dois pontos. Wenne abre aspas e coloca uma maiúscula para delinear que Lennon faz uma citação ou frase em discurso direto. Importarei este artifício para o livro.

O que isso muda na sua vida? Primeiro uma lição básica de texto. Frases longas tendem a dar uma velocidade alta para os conceitos agrupados dentro dela, ou em outras palavras, o leitor traga a frase em um só gole. Frases curtas são diferentes. São mais fáceis. Fazem a leitura ir em outro ritmo. Mais lento. E mais claro. Eu estava usando dois pontos, o que trava a frase. Uma vírgula ou aspas diretamente se aproximam mais ao ritmo que os entrevistados dão ao fazer citação

A estrutura é mais usada do que parece. Ao contar um causo ou até quando relato o que pensou, são outras vozes. Não dá para tocar tudo junto.

Exemplo prático do que estou me referindo:
1) Eu fui no banco o cara me falou ei, você vai fechar sua conta?
Não usaremos
2) Eu fui no banco o cara me falou "Ei, você vai fechar sua conta?".
Maioria dos casos.
3) Eu fui no banco o cara me falou: "Ei, você vai fechar sua conta?".
Quando a frase for feita com precisão ou houver uma pausa na entrevista.

*****
Detalhista? Eu?

Count-down para terminar o livro

Desde quarta-feira passada, por causa de uma visita da minha mãe, meu trabalho em Curitibocas diminuiu. Amanhã vou começar a me concentrar neste projeto.

Esta semana particularmente vai ter muita concentração. Isto o escreve quem normalmente quem se distrai primeiro - podem me cobrar depois, a ver se cumpri esta promesa de trabalho intensivo. Mas vamos terminar de escrever este livro de uma vez.

Tomara que daqui a uma semana possa dizer que esta etapa já está pronta. Logo, novos desafios. Correções, reuniões, editoras, entre outras...

sábado, 26 de maio de 2007

Será que entendem quando eu falo?

Já vão se cumprir cinco meses de minha estadia em Curitiba. Neste tempo eu achei que meu português tinha melhorado bastante, até algumas pessoas comentaram. Mas depois da quinta-feira passada, minha moral caiu ao fundo do poço.

Daí que me perguntei se os leitores de Curitibocas entendem quando eu falo, ou melhor, quando eu escrevo. Talvez meus textos dêem a impressão de estar escritos por uma analfabeta. Tomara que tenha um pouco mais de crédito.

A razão pela minha preocupação e frustração com meu conhecimento do português foi um diálogo surreal que teve no Museu Oscar Niemeyer. Passo a relatar.

Devido à visita da minha mãe, estou fazendo um roteiro turístico nas ruas de Curitiba. O Museu do Olho não podia faltar, então fomos. Entre as diversas exposições que visitamos, entramos em uma chamada Aladdin. Não é de Disney não. É do artista uruguaio Joaquín Torres Garcia.

Enquanto eu olhava as obras - parte das quais eram bonecos - um funcionário do museu foi me explicando algumas questões. O cara era muito claro e contava coisas muito interessantes. Por razões obvias, ele falava em português e logo eu explicava para minha mãe em espanhol. A primeira vez que aconteceu isso, o homem pareceu meio intrigado.

- São italianas?
- Não, argentinas
- Ahh...

Continuamos olhando os quadros e bonecos até que o cara se acercou novamente.

- São italianas? [sim, pela segunda vez]
- Não, argentinas.
- Mas falam italiano.
- Falamos em espanhol.
- Mas quando você fala comigo, fala em espanhol. E quando explica para ela, fala em argentino [se referia a um suposto "idioma" chamado argentino] que se parece com o italiano. O uruguaios falam mais parecido ao espanhol que vocês.
- Como assim mais parecido ao espanhol? Tanto os argentinos e uruguaios falamos em espanhol. Eu estou falando com você em português, ou pelo menos isso estou tentando. E depois falo com minha mãe em espanhol..
- Ahh mas eu entendo quando vocês falam. Quando vem gente de fora aqui ao museu, a gente entende. Vem de México e entendemos tudo [o cara achava que se tratava de mais outra língua].
- Claro, porque tem raízes parecidas. O português e o espanhol são línguas latinas.
- Também entendemos panamenho [idioma que ele pensa que se fala em Panamá]...
- Senhor, em toda Latinoamérica se fala a mesma língua: o espanhol. Não existe tal distinção. São só diferentes sotaques. Não existe o idioma argentino, panamenio nem uruguaio.

A situação foi surreal. Parecia um sem-sentido entre estranhos. Nem sei por que a conversa virou nesse tópico. Eu não entendia como uma pessoa podia ter tal confusão idiomática. "Os uruguaios falam mais espanhol que vocês". Que é isso? Ainda pior, o cara continuou sorrindo, feliz de ter conversado conosco. Eu tenho sérias dúvidas que tenha entendido algo sobre a língua espanhola.

Passei a tarde toda lembrando desse momento. Ri bastante, até que lembrei que o cara dizia que eu falava com ele em qualquer língua menos português. Aí me frustrei. Não sei que tão "aportunholada" é minha comunicação aqui. Será que os leitores conseguem me entender quando escrevo? Vocês dirão...

Golpe na pergunta chata

O questionário Proust que aplicamos nos entrevistados é a parte das respostas curtas e rápidas. Porém duas delas quebram o ritmo e fazem o entrevistado pensar.

A primeira freiada é na quarta pergunta, "para quais erros você tem maior tolerância?". Está ordenada de maneira confusa. Ela vem depois de três perguntas muito claras. A pergunta clássica é "que tipo de coisa você não tolera".


A outra parada é no final, na pergunta "feito militar que mais admira?". Convenhamos, pouca gente pensou nisso. No começo cogitamos sacar essa pergunta, dada a aparente unanimidade de "nenhuns" que o povo respondia.

Até que veio a entrevista de Paulo Cezar dos Santos Rodrigues. A resposta? O golpe de 64. Não surpreendeu tanto pelo fato dele ter servido o exército.

A convicção ganhou mais força por estar envolta de gente que não tem feito militar favorito.

sexta-feira, 25 de maio de 2007

Curitibocas recomenda: use Google Docs

Uma das coisas mais irritantes que o mundo da informática trouxe foi as versões de um mesmo documento. Cansei de fazer algumas alterações em um documento e imprimir uma versão antiga. Sem contar quando faço pequenas edições em dois ou mais arquivos em paralelo e só me dou conta no final ("tchê, eu já fiz isso").

Quando o trabalho é em dupla (nosso caso) e/ou com distância física entre os dois (também nosso caso), o caos tem grande chance de prevalecer.

Mais uma vez a mais poderosa manifestação divina na Terra resolveu esta incômoda situação. Gmail já é dá uma mão na roda agrupando as conversações - como nos fóruns. Assim o risco de abrir uma versão antiga cai drásticamente. Google Docs & Spreadsheets arruma a casa de uma vez por todas.

Primeiro de tudo cabe esclarecer que se trata de um editor on-line com 85% das funções que 99% dos usuários usam nos softwares convencionais. Nunca usei as ferramentas de símbolo, autotexto e tantas outras que parecem que só servem para deixar o Word mais pesado. A grande vantagem é que mais de uma pessoa pode editar o mesmo documento. Se isso ocorrer ao mesmo tempo, o sítio avisa ("Also editing: Ceci").

Tenho um backup no meu HD para caso o Google feche de uma hora para outra. Sinceramente acredito que são maiores as chances do meu disco duro se fundir do que o apocalipse.

Doces sacrifícios para trabalhar melhor

Em fevereiro deste ano, Folha de São Paulo publicou uma matéria sobre os efeitos do chocolate. O título, Cacau pode evitar efeitos do envelhecimento no cérebro, já diz bastante. Cito aqui uma parte do texto:

"Ian MacDonald, da Universidade de Nottingham (Inglaterra), relatou durante a reunião da AAAS, em San Francisco, os resultados de testes com mulheres jovens que precisavam resolver uma tarefa complexa enquanto tinham seu cérebro monitorado por ressonância magnética. As que bebiam cacau rico em flavonóis tinham um fluxo de sangue no cérebro aumentado significativamente em relação às que não tomaram cacau".

Conclusão: chocolate faz bem ao cérebro. Nós tomamos muito a sério esta prova científica e queremos trabalhar da melhor e mais efetiva maneira. Se isso implica comer mais chocolate do comum, então que seja assim. Faremos o que seja necessário para o bem de Curitibocas. Os irmãos argentinos levaram isso a conta e trazeram com alfajores. Se aceita qualquer outra contribuição.

quinta-feira, 24 de maio de 2007

Pega as direita, depois as esquerda e segue-segue toda vida

Um bom exemplo de debates implícitos, nome que a Ceci deu quando duas entrevistas paralelas se contradizem ou parecem responder uma a outra, saiu na Caros Amigos deste mês. Os repórteres da revista perguntaram à diversas personalidades o que é ser de esquerda.


Jorge Bornhausen, advogado, político, ex-presidente do PFL
Eu acho que é diletantismo, porque o próprio presidente da República, que se diz de esquerda, não segue qualquer linha ideológica, nem de esquerda, nem de direita, nem de centro. Essa divisão entre esquerda e direita é algo absolutamente superado. Hoje, a política é uma política de resultados para o cidadão, e ele não está preocupado se o político se diz de direita, de esquerda ou de centro. (...)

Tereza Cruvinel, colunista política do jornal O Globo e comentarista da Globonews.
A propósito da lenda de que os rótulos ideológicos perderam o sentido e o significado no mundo de hoje, gosto de uma velha tirada da Simone de Beauvoir, que dizia, já naquele tempo: “Se lhe apresentarem um homem que se apressa a dizer que não vê diferença entre esquerda e direita, tenha certeza de estar falando com um homem de direita”.




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Agradeço Hemely Cardoso (aka a repórter mais querida de Curitiba) pela indicação da reportagem leitura.

Os dois mosqueteiros

Uma das vantagens do trabalho em equipe é essa coisa dos Três Mosqueteiros (mesmo que neste caso se trata de dois): "Todos por um e um por todos". Quer dizer, se um está trabalhando e a fome ataca, o outro desce a comprar comida. Se um tem que viajar por X motivo, o outro segue escrevendo. Se a mãe vem visitar, um mosqueteiro leva ela a conhecer Curitiba, enquanto o outro se concentra em terminar o livro.

Confesso que há algum tempo tinha receio pelo trabalho em equipe. Pensava que sempre era um quem acabava tendo toda a responsabilidade. O ano passado me provou que estava errada. Era só uma questão de encontrar as pessoas certas para trabalhar. O exemplo mais evidente foi o prêmio "Proyectando Valores", onde logo de vários meses escrevendo um ensaio, ganhamos o primeiro lugar.

A receita para uma boa dinâmica de grupo é que os dois tenham o mesmo interesse e disposição para o projeto. Isso nós temos. E daí a lógica é simples. Dividir as tarefas entre os mosqueteiros e aplicar a premissa: todos por um e um por todos. Nestes dias que estarei meio ocupada em outras questões, só me resta dizer: Valeu João.

Perguntas gerais ou específicas

Em primeiro lugar, perdão pelo atraso deste post. Justifica-se pelo fato do tricolor dos pampas ter avançado à semi-final. Uma vez mais na medida, como este blog (que não tem vocação para o esporte, repito) vem noticiando. O Grêmio está milimetricamente matando seus torcedores do coração. Desta vez devolveu o resultado de 2x0 e ganhou nos penaltis de 4x2. Não me surpreenderei se contra o Santos a decisão for 5x4 nos penaltis.

Enfim, vamos ao post do dia.



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Um dos mandamentos do jornalismo diz: "Não irás despreparado para as entrevistas, sob pena de perder objetividade e interesse". O repórter sempre deve ir para o combate com uma base boa para fazer perguntas específicas ao entrevistado.

Curitibocas respeita o axioma, mas faz diferente. Há uma pequena preparação. Não chegamos perguntando "o que tu faz?". Porém, damos espaço para perguntas abertas que poderiam ser respondidas por todos (vide o questionário Proust).

As perguntas gerais tem a vantagem do leitor se identificar com elas. Ele poderia responder tranqüilamente.

Dentro das gerais se enquadram aquelas que tocam em temas de intensa discussão da sociedade. Por exemplo, Hélio Leites em um determinado momento comenta sobre as pichações. Por mais que seja um artista, esse é o metiê de Murilo Mendonça. A análise dele contribui para o debate.

Claro que as específicas tocam naquilo que faz a singularidade do personagem. Isto nós também preservamos.

quarta-feira, 23 de maio de 2007

Chegada de Proust em Curitiba

Será que tudo se relaciona com Curitibocas, ou é só que minha cabeça é monotemática e só pensa no livro? Me inclino pela segunda opção.

Mesmo assim, há coincidências que não dá para negar. Hoje recebi uns cinco jornais argentinos, dois revistas culturais, três livros do meu desenhista favorito (Liniers) e vários alfajores. Minha mãe chegou hoje em Curitiba.

Na revista Quid tinha uma marca. Abri a página e encontrei um dossier sobre nosso amigo Marcel Proust. "Oh mãe, você colocou esta marca pelo Questionário Proust que a gente utiliza no livro, né?" Ela negou. Disse que só havia achado interessante e queria que eu lesse esse texto. Não era por Curitibocas. Ouuu...

Engraçada a coincidência. Às vezes me surpreendem este tipo de conexões. Vou ler o texto e depois faço um comentário mais completo da questão.

terça-feira, 22 de maio de 2007

Fase 3+4 = 60% (- Fase 5)


As fases 3 e 4 são, respectivamente, edição e criação da história fictícia. O capítulo 10 tem grandes chances depassar para a quinta fase de produção nesta noite. Em números percentuais, significa que cerca de 60% das entrevistas saíram do forno.

Isto significa que só faltará aquela revisão pente fino - revisão em cada "porquê", crase e todas aquela parte divertida da gramática de nosso idioma. Os capítulos de 1 à 9 estão prontos para passar por esta lupa onde convocaremos novamente os entrevistados quando tivermos dúvidas.

Superar a metade de uma etapa tem uma relevância psicológica. Como o dólar abaixo de R$ 2,00. Uma queda de R$2,03 para R$2,01 é menos importante do que um R$ 2,01 para R$1,99. Fica mais fácil de visualizar que o dólar está realmente caindo.

Para nós, é sinal que o livro está quase pronto.

Debates implícitos

No momento das edições, a gente começa a lembrar muitas coisas dos entrevistados. Declarações polêmicas, atitudes engraçadas, linguagens particulares, entre outras. Ante algumas perguntas, alguns entrevistados fogem pela tangente - atitude involuntaria na maioria dos casos. Se tivéssemos que fazer um Top 5 das edições mais complicadas, a artista plástica Didonet Thomaz estaria liderando o ranking. É difícil entender a moral do trabalho dela, e ainda pior, fazer-lo comprenssível para o leitor. Mas o desafio ainda não acabou, está começando e vai dar certo.

Ontem falei das interligações que se dão de forma natural entre os personagens. Hoje se deu novamente, mas de um jeito mais implícito. Na real, é uma relação para contrastar posturas ante um mesmo tema.

Didonet declarou que não gosta de expor. Sua justificação para não ter afã de querer ser conhecida foi a seguinte:

"Isso é um critério de valor. Tem gente que é alucinado por isso. Quer fazer escola de qualquer jeito. Isso é conseqüência. Eu não estou procurando isso não. Certamente eu conheço pessoas que tem uma pasta para mim. O Key Imaguirre tem uma pasta para mim na biblioteca. Eu quase cai para trás. São surpresas. Eu fui publicando, entrando em contato. Eu sou muito comunicativa. Mas não sou muito da mídia".

A menção do arquiteto não é o foco de interesse deste post. O interessante é contrastar com a postura do já mencionado Edílson Viriato, quem para a pergunta se gosta de aparecer na mídia respondeu:

"Não que eu goste, mas é parte do meu trabalho. Se eu não aparecer, meu trabalho não aparece. Claro se eu fosse diferente dentro da profissão de arte - um cantor ou ator -, a minha pessoa seria mais importante. Mas chegou um ponto que o meu trabalho sou também eu. Eu uso o meu próprio corpo para expressar o meu trabalho. Quando você mostra conceitualmente o que você é, você expõe o que a sociedade pensa, você automaticamente está dentro desse conceito e o que ela pensa".


Os personagens de Curitibocas - Diálogos Urbanos se relacionam e complementam. Apareceram vários tópicos onde as posturas são diametralmente opostas. Até parecem estar realizando um debate implícito, falando da suas opiniões e refutando argumentos falados em outras entrevistas. Nossa postura é sempre a mesma: a riqueza está na diferença e no contraste.

segunda-feira, 21 de maio de 2007

Sabatina de Marcel Proust

Circula por aí um questionário de autoria atribuída ao escritor francês Marcel Proust. As versões variam a forma e a quantidade das perguntas. O suplemento Sal do jornal Clarín aplica uma versão reduzida desta tal sabatina.

No Curitibocas, aplicamos uma versão de 30 perguntas aos entrevistados. Sem réplica, como segue abaixo:

Qual é o cúmulo da miséria?


Onde você gostaria de morar?


Qual é o seu ideal de felicidade na Terra?

Para quais erros você tem maior tolerância?

Quais obras literárias você prefere?

Qual é seu personagem histórico favorito?

Seu pintor favorito?

Seu musico favorito?

A qualidade que prefere no homem?

A qualidade que prefere na mulher?

A virtude que prefere?

Sua ocupação favorita? (hobby)

Quem você gostaria ter sido?

O que você mais aprecia dos amigos?

Seu pior defeito?

Seu sonho de felicidade?

Qual seria sua pior desgraça?

O que você gostaria de ser?

Sua cor favorita?

A flor que mais gosta?

Qual pássaro preferido?

Seus autores favoritos em prosa?

Seus poetas favoritos?

Seus heróis na vida real?

Seus nomes favoritos?

O que você detesta?

O feito militar que mais admira?

Qual dom da natureza você gostaria de ter?

Como gostaria de morrer?

Seu lema?

Destas (não tão) simples perguntas surgiram respostas curiosíssimas. Em breve falaremos mais sobre o assunto.

Mosaico Curitibocas

Sem que fosse nossa intenção, os próprios personagens de Curitibocas - Diálogos Urbanos foram se entrelaçando. Essa é a riqueza do livro, e a razão pela qual são verdadeiros representantes da cidade.

Um exemplo é o Key Imaguirre, a quem entrevistamos justamente porque foi mencionado por outros personagens como um referente da cidade. E para completar este quebra-cabeça, na entrevista com o arquiteto, ele contou uma anedota com o próprio Hélio Leites, que também faz parte do livro.

Casos como este tivemos muitos. As conexões foram aparecendo naturalmente. Isto nos dá um incentivo para acreditar que a coletânea de entrevistas vai realmente construir um mosaico da Curitiba e da sua identidade.

A continuação, um trecho da entrevista com Key.

Outro [projeto] foi o assobiódromo do Hélio Leites. Eu que fiz a maquete para ele.

O que era o assobiódromo?

Um lugar para você assobiar.


Você não pode assobiar na rua?
Pode, mas ele queria um lugar específico para isso.


E onde seria esse assobiódromo?

É, a gente conversou sobre isso. Não tem terreno. Então eu fiz uma coisa que você possa colocar em qualquer lugar. O desenho era em cima do tamanho de uma quadra urbana, que seria 100 por 100 metros. Fiz lá o tal assobiódromo dele. Deixa eu fazer um desenho para você ver [desenha]. A forma dele é mais ou menos assim, meio de embrião. Aqui é bem alto e na medida que você vem para cá ele vai baixando. Andava, aí eu coloquei um laguinho no meio. Então você pode vir na margem do lago ou ali em cima e ficar assobiando por ali.

Você assobia muito?

Eu não. Mas ele é. Ele tem o Fiu-Fiu Esporte Clube, que é o Clube de Assobiadores. Ás vezes você encontra ele na rua XV com quatro, cinco malucos assoviando.

***
Foto: Monize Carrara de Lima

domingo, 20 de maio de 2007

Tangos & Tragédias contra Vampiro contra Curitiba


Este fim de semana vi uma peça expoente da minha terra natal. Tangos & Tragédias encerrou hoje uma série de três apresentações no Teatro Guaíra - maior teatro daqui de Curitiba. Apesar de Hique Gomes e Nico Nicolaiewsky se apresentarem como oriundos da Sbórnia, o espetáculo é permeado por elementos da cultura gaúcha. Em certo momento do espetáculo, ensinam como se diz "Bah", interjeição símbolo do Rio Grande do Sul.

A alegria e humor de Tangos & Tragédias tem pouca relação com o humor apreciado pelos baianos (gaúchos consideram que a Bahia é o que resta do Brasil acima de São Paulo). Absurdo e engraçado sem apelar para caricaturas fáceis.

Tangos & Tragédias é um dos muitos exemplos de produtos culturais oriundos do sul. Gomes e Nicolaiewsky trazem juntos os produtos da Sbórnia Records com mais arte do sul. Em contrapartida, Curitiba dá impressão de carecer deste tipo de iniciativa.

Hoje fui no mais curitibano dos teatros, o Lala Schneider, ver uma O Vampiro Contra Curitiba. Texto do tal Dalton Trevisan com direção de João Luiz Fiani e protagonizado por Marino Jr.. Se tivesse que fazer uma seleção teatral desta terra, estes seriam os escolhidos.

A obra é pesada, pessimista e visceral, como tudo que tem o dedo do vampirão Trevisan.
Este é um ponto de vista de Curitiba. Acho que faltam outras opiniões vir a público. Curitiba é a polaquinha, Nelsinho e mais. Onde estão os outros curitibocas? Só exportam morcegos nesta terra?

Se fizer as mesmas perguntas...

No meu último texto, comentei que estava lendo o livro "Perfis, e como escrevê-los", de Sergio Villas Boas. Hoje acordei cedo e peguei meu livro - na verdade, é emprestado, mas tudo bem.
Me senti identificada com o perfil do escritor João Ubaldo Ribeiro. Acho interessante transcribir o trecho que me surpreendeu tanto.

- Quinhentos anos? Você veio aqui para falar dos quinhentos anos? Essa não!
- Bem, poderia ser um dos assuntos, afinal a Carta de Pero Vaz de Caminha ainda é a certidão de nascimento do Brasil...

- Primeiramente, não temos quinhentos anos.

- Menos ou mais?

- Olhe, meu amigo, preciso trabalhar; estou cada vez mais sem saco para entrevistas.
- Por que deixou a gente [eu e o fotógrafo carioca Antônio Batalha] chegar até aqui, então?

- Você insistiu muito...

- O que mais te incomoda em entrevistas?

- Os caras me fazerem as mesmas perguntas de sempre, e o modo como me folclorizam.

- Pode nos mandar embora daqui, se quiser.

- Mas sou um sujeito que não sabe dizer não. Vamos, vamos começar. Diga o que pretende.

Um dos nossos entrevistados, o artista Edílson Viriato, teve uma atitude similar à do João Ubaldo Ribeiro. Ele estava com o saco cheio de responder as mesmas perguntas e não teve muita resistência em conversar conosco. Mas a diferença com o Sergio Villas Boas foi que nós insistimos em que nossas perguntas fugiam do normal e nem pensamos na hipótese de ir embora.

O trecho a continuação mostra o momento mais crítico do encontro com Viriato.

"Então, que tipo de perguntas você vai fazer? Se não entrar nisso, está bom. “O que é sua carreira?”, “Porque você faz isso?”, “Porque faz?”, “Como começou?”, “Como que é?”, esse tipo de coisa é foda. (...) Podemos começar. Mas se fizer essas perguntas, eu vou ser sincero, não é ser grosso, ser antipático, mas é cansativo. Os jornalistas chegam e fazem as mesmas perguntinhas. “Fale um pouco da sua obra”. Que obra? Se às vezes eu nem tenho obra".

sábado, 19 de maio de 2007

"Disseram que" é a solução para o confronto

Entrevistador não faz competição de inteligência com o entrevistado. Bem, alguns adoram demonstrar sua erudição, mas considera-se um erro já que a entrevista deve sempre privilegiar quem responde as perguntas.

Existem aquelas perguntas que são polêmicas e não devem ser evitadas, sob pena de dar a impressão ao leitor de falta de coragem do repórter. Quem entrevistar Sam Raimi deve mencionar o que grande parte dos fãs do cabeça de teia ficaram decepcionados com Spider-Man 3, por exemplo.

Um excelente conselho do crítico de cinema Sebastian Tabany. Para contornar esse tipo de questão, faça menção da opinião dos outros. No caso do Homem-Aranha 3, o entrevistador evita constrangimento se formular a perguna "alguns críticos desqualificaram o filme, o que você acha disso?". Assim evita-se o enfrentamento direto com o entrevistado.

No Curitibocas, essa máxima foi solenemente ignorada quando entrevistamos Edílson Viriato. Ele queria ser desafiado, pedia uma entrevista diferente.

O contrário aconteceu com a Irmã Custódia. A técnica foi explorada ao pé da letra. Para perguntar sobre a pomposidade dos papado, menti ter lido em um artigo do "New York Times" que dizia que caso Jesus voltasse, jamais usaria as roupas de Bento 16. Nem sentaria no trono como um rei enquanto a cultura brasileira servia de bobo da corte.

Moral da história: Ceci e eu ouvimos esta maravilhosa dica em um curso de crítica cinematográfica. Tudo agrega. Um sujeito que tem o sonho de ser um grande repórter de economia vai encontrar boas idéias em material que envolve outras editorias.

Formação em primeiro lugar

A arrogância certamente não nos caracteriza. Somos conscientes que não temos experiência na escritura de livros e não pretendemos que nossa visão do assunto seja a única válida - razão pela qual aceitamos críticas e sugestões.

Para conseguir fazer um trabalho cada vez melhor, acreditamos na formação inteletual. Atualmente, ambos estamos lendo livros relacionados ao nosso assunto. João está com "Lennon Remembers", um livro de Jann S. Wenne. No meu caso, estou com "Perfis, e como escrevê-los", de Sergio Villas Boas, que mesmo não sendo especificamente sobre entrevistas, dá muitas dicas para o trabalho jornalístico.

Ninguém tem A fórmula para fazer um livro. É só a experiência que dá diversas alternativas para escolher a mais conveniênte. Mas com certeza Curitibocas - Diálogos Urbanos vai ser um produto da contínua formação e auto-crítica.

Guia de entrevistas IX - Programa do Jô


"Too much hype", diriam as revistas de games importadas.

Jô Soares é inteligente e tem o timming para o humor.

Mas como diz o título, o programa é dele.

O programa é ele.

Muito show, pouca informação e insistência de arrancar humor em todas as entrevistas.

Recomendado para quem gosta do Jô. Quem gosta de boas entrevistas deveria buscar em outras fontes apontadas neste Guia.

Programa do Jô - Segunda à sexta depois do Jornal da Globo (geralmente 0h30).

sexta-feira, 18 de maio de 2007

Divergências na edição

Das 17 entrevistas, algumas são mais complicadas que outras em termos da edição. Tanto por sua extensão, como por sua variedade temática, tem várias que parecem impossíveis. Tal é o caso da famosa Efigênia Ramos Rolim.

É a terceira vez que editamos esta entrevista e ainda não terminamos. Ontem a noite discutimos sobre se colocar ou não um trecho final do encontro. Eu argumentava que era importante incluir as dois últimas poesias que a Efigênia falou. Por outra parte, João defendeu que isso que ela disse, já estava em outras partes da entrevista, e não dava para redundar.

A decisão ficou em suspenso. Temos que ler e reler, escrever e reescrever para ver como estruturamos essa entrevista. Estas divergências são as que fazem tão rico o processo de escritura. E na dificuldade sempre encontramos alguma saída.

Repórter da BBC perde o controle em entrevista



O repórter trabalhava em uma filmagem sobre a Igreja da Cientologia. A discussão é com um representante da religião.

Com alguns entrevistados, dá vontade de dizer umas e outras. Mas esse caso foi extremo.

Beatles, terrorismo cultural e Curitibocas


Beatles é uma das bandas que você respeita, gosta ou desconhece. Os motivos para estarem no topo de todas as listas de melhores álbuns e bandas são vários. Um deles é o jogo dos Beatles entre o comercial e o artístico.

O disco "Revolver" tem canções pop de ótima qualidade. "Taxman" e "Good Day Sunshine" tem refrões fáceis e chicletões. Muita gente pode ter comprado o LP por essas duas.

O incauto que fez isso teve que passar por coisas como "Eleanor Rigby". Com certeza não será uma passagem confortável. " Ah, look at all the lonely people" e um octeto de cordas que tocam fundo na alma de qualquer ser que se apresente como humano. E o pior: é chiclete.

Curitibocas vai na mesma linha. Terá entrevistas "pop". Quem sabe alguém compre para ler sobre o Oilman, Plá e outras figuras caricatas de Curitiba. Nas próprias entrevistas terá de passar por um conteúdo denso. E por outras entrevistas de gente que tocam ou esmurram fundo na alma.

É terrorismo. Disfarçados, introjetamos substâncias danosas na idéia de mundo do receptor.
*****

Nota de esclarecimento: não quero me comparar com os Beatles. Esta é a banda que toda vez que escuto me faz lembrar por que não tenho uma banda. Ao mesmo tempo que me regozijo por entender que se trata de uma grande obra, fico aborrecido por não ter o talento deles.

Guia de entrevistas VIII - Playboy


Tem gente que abre a Playboy só para ver as figurinhas.

Sugiro que dê um pouco de atenção na seção de entrevista.

É o tipo de entrevista que norteia este projeto.

Looooooooooooonngas. Detalhadas. Fluídas.

Temas variados.

Acredite, eu já comprei a Playboy só pela entrevista.

Lembro quando comprei a da Juliana Paes - na época nem sabia quem era. Claro que aproveitei para ver as figurinhas. Achei (e acho) ela bem comum, no caso.

Para as mulheres entenderem: parte do fetiche da Playboy é saber quem está pelada.

A propósito, a entrevista era do Falcão do Rappa.


Playboy - revista mensal por R$9,90.

quinta-feira, 17 de maio de 2007

Compro felicidad efímera por tres reales

O texto de hoje está em espanhol. Era para ser colocado no meu blog, mas resolvi fazer um post aqui também. A diferença entre português e espanhol não é tão grande, dá para compreender. O esforço vale a pena.

Hoy gané la lotería. Nunca pensé que iba a caer en ese juego pero caí. La felicidad duró media hora. Paso a explicar.

Hace más de un mes entrevistamos a la legendaria vendedora de billetes de lotería, Borboleta 13. Es una de los 17 entrevistados del libro Curitibocas - Diálogos Urbanos. El encuentro fue muy interesante, llegamos a conocer realmente quién es esta persona que con los años ganó su lugar en el imaginario popular de Curitiba.

Ya hace un tiempo pensé que antes de volverme para Argentina, le quería comprar un billete. Hasta ayer no había cumplido esa determinación.

Borboleta está ubicada en un lugar estratégico, una esquina muy transitada del centro. Ayer estaba pasando por ahí cuando de repente escucho: "Olha a cobra, aqui tem". Esa frase es su sello distintivo. Me acerqué y nos quedamos charlando un rato. Resolví comprar un billete. Tarde o temprano lo iba a hacer. Saqué 5 reales y compré un billete de "cobra". El sobrenombre de esta vendedora se debe justamente a vender "cobra" y "borboleta" (sería mariposa en castellano).

En fin, guardé el billete y seguí con mi día. Hoy me acordé que tenía que chequear los números premiados. Me metí en Internet, puse mi número y salió un lindo mensaje que fui premiada con 20 reales. Para alguien que no tenía expectativas de ganar, es una linda sorpresa. Fui muy feliz, confieso.

El paso siguiente fue salir en busca de mi dinero. Sin dejar de sonreir, entré en una sucursal de la Caixa Económica. Mi ansiedad tuvo que esperar ya que entré en el lugar equivocado. Dos empleados (uno fue incapaz de resolver esta simple situación) me dieron nuevas instrucciones. Crucé la calle y fui a una lotérica. Ahí esperé en la fila. El tiempo pasaba y yo ideaba qué iba a hacer con esa plata (nótese como 20 reales pueden cambiar mi día).

No pasaron diez minutos cuando me tocó a mí. Llegué a la ventanilla 5. La mujer puso el billete en una maquinita y con una sonrisa me dijo: "Ganaste dos reales". Argumenté que me había fijado en Internet y que decía que eran 20, ella debía estar equivocada. Chequeó de nuevo. "No, son dos reales". Ahí me explicó que seguramente ese era el premio si había comprado más de un billete. Después me ofreció comprar otro, esta vez uno de "elefante". Dudé, pero resistí. Sabía que era caer en un círculo vicioso.

Mi frustración fue de la mano de una risa fácil. Si alguien me vio caminar desde la lotérica hasta mi casa debe haber pensado que estaba loca. Iba riéndome de mi misma (todavía me sigo riendo). De los cinco reales que gasté, gané dos. Prefiero pensar que invertí tres reales para tener una dosis de felicidad efímera que con certeza cambió el rumbo de mi día. Esta situación fue insólita. Algún día tenía que jugar a la lotería, por lo menos una vez. Ahora conozco la experiencia y sólo la recomiendo para quien esté dispuesto a perder.

quarta-feira, 16 de maio de 2007

Guia de entrevistas VII - Marília Gabriela Entrevista

Muita fama, pouco trabalho efetivo.

Marília Gabriela ganhou o status de entrevistadora destemida e temida.

Seu programa é um palco para os projetos da Globo. BBBs, atores, apresentadores, etc.

O tom "duro" serve para destrinchar fofocas.

Força o clima confessional com um tom de cumplicidade com os entrevistados. Quando pega na mão, é para dar o sinal de "sou sua amiga".

Marília Gabriela Entrevista - domingo às 23h no GNT.


Apaixonado por Darcy


Não estava nos planos, mas cada vez que escrevo a introdução de um capítulo, gosto mais de nosso protagonista, Darcy.

O planejamento do livro foi as entrevistas, seguida das penosas degravações para finalmente começar a edição e a história fictícia que simplesmente dará um fio condutor à coisa.

Darcy foi planejado para aparecer o mínimo possível e ser a personificação do leitor na obra. Mas o fato dela(e) ser assexuado, atrai a atenção pelo esforço de neutralidade. Um pequeno paradoxo.

Mas acontece que Darcy interage com a cidade. Tem suas reações e atitudes perante as dificuldades que se envolve em Curitiba.

As páginas de Darcy são muito mais dolorosas para serem escritas do que as entrevistas. Estas tem uma lógica, um sentido e uma maneira mais precisa de certo e errado. A parte "Darcy" é mais livre, o que em princípio assustou este (quase) jornalista pela infinidade de possibilidades.

Levo metade de um dia para escrever uma introdução aos entrevistados que dá, mais ou menos duas páginas. Se este fosse o ritmo das entrevistas, o livro não sairia este ano.

Se soubesse desse afeto que desenvolvi pelo personagem, teria feito o inverso. Primeiro a história e encaixar as entrevistas de acordo com a história fictícia proposta. Fica para o próximo livro.

Para encerrar: esta idéia vai ao encontro do que eu sempre escutei de um publicitário amigo meu. Não existe essa de "poupar criatividade". Depois de esvaziar a cabeça, ela se encherá naturalmente.

O sonho chegou ao seu fim

Hoje eu fez o ultimo intento para conseguir a entrevista com o vampiro Dalton Trevisan. Fui até a lotérica onde trabalha um bom amigo dele. Me apresentei a Esteban*, contei do projeto mas a resposta foi a previsível: "Ele não dá entrevistas, nem a seus amigos".

O amigo do vampiro argumentou que se eu fosse aos Estados Unidos e quisesse entrevistar a J.D. Salinger (famoso por sua grande obra "O Apanhador no Campo de Centeio") a resposta seria a mesma. Não deu para contradizer.

Para minha surpresa, o Dalton comentou com Esteban sobre os bilhetes que deixei na sua casa há umas semanas atrás. Experimentei uma linda sensação ao saber que pelo menos ele falou sobre esse intento desesperado.

Mesmo com a negativa, fiquei um bom tempo na lotérica. Deu para bater um papo com Esteban da cultura curitibana, de possíveis entrevistados e de J.D. Salinger (descobri que são quatro os livros que ele publicou, me faltam dois) .

Curitibocas se mantém com seus 17 nomes. O sonho de entrevistar ao vampiro acabou.


* Além de ser funcionário de lotérica, Esteban tem uma vida paralela. Quando não vende bilhetes, faz filmes. Entre outros, é o responsável pelo documentário "Rainha do Papel", sobre a já mencionada Efigênia.

Guia de entrevistas VI - Ensaio


Entrevistador é como juiz de futebol. Quanto menos aparece, melhor é.

A analogia é levada a pé da letra no programa Ensaio. A pergunta é elipsada.

Todos elementos convergem para um tom confesional.

O olhar para baixo, fundo negro, câmera próxima.

O formato é explorado apenas para o gênero musical - o convidado também toca.

Será que dá certo com outros gêneros?


Ensaio - quinta-feira às 23h (novo horário) na Tv Cultura

terça-feira, 15 de maio de 2007

Começando o 5to capítulo

Quando começamos este projeto, me auto-enganei ao pensar que editar as entrevistas ia ser fácil e rápido. Nem é a primeira vez que me enfrento a uma tarefa como esta, mas agora eu tenho certeza que é bastante complicado do que tinha previsto.

Mesmo sendo difícil, o processo é interessante. Muitos nos perguntam como é que a gente faz para escrever um livro. Primeira e mais importante aclaração: não estamos escrevendo no mesmo computador, olhando a tela e pensando juntos. É uma idéia que nunca se cruzou pelas nossas cabeças. Cada um tem sua independência na escrita.

Segundo ponto: graças a outro trabalho que fizemos juntos (com o qual ganhamos o primeiro prêmio) cada um tem seu computador. Então dá para fazer várias coisas ao mesmo tempo e individualmente. Só se alguém está interessado, a dinâmica nestes momentos é a seguinte: eu pego uma entrevista, faço a primeira edição e passo para o João. Ele dá uma segunda revisada, muda várias coisas, e mexe com a história fictícia.

Por enquanto, o método funciona. Vamos já pelo 5to capítulo e está ficando muito interessante. Para finalizar, coloco um trecho em bruto da entrevista com Efigênia Ramos Rolin. Ainda não tinha passado pelo processo de edição. O personagem vai formar parte do 6to capítulo.

O que inspira a sua arte?
Eu acho que é um dom que veio de Deus. Eu acho que a arte, a poesia ta enclausurada no universo. Nem todo o mundo tem a graça, a essência... cada um tem seu pudor, cada um tem sua arte. A arte ta na clausura. Que adianta eu fazer isso aqui e não botar na rua. Se eu fechar, ela não exister. Arte é uma busca no universo. Toda hora tem, todo minuto tem algo para gente fazer. Tudo tem a hora certa. Assim como a criança tem uma hora certa para nascer. E eu não posso deixar passar. É um dom, sabedoria, força de vontade e luta. É uma guerra. Isso aqui é o sonho do meu sonho.

Amigo não existe

Trecho da entrevista exclusiva de Borboleta 13. Versão sujeita à alterações e revisões até a publicação do livro.


Tem amigos aqui na rua?
Tenho. Converso com um, converso com outro. Mas enquanto eu estou trabalhando evito conversar. O serviço tem que render. Eu tenho que procurar ganhar meus troquinhos e levar minha vida em dia. Meus médicos, eu tenho que fazer muitos exames. Às vezes eu perco dois ou três dias. Se eu quisesse estar trabalhando em empresa eu estava. Só que aqui eu tenho liberdade de vir o dia que eu quero.

Como é sua vida social fora da XV?
É difícil. Eu tive amigas que entraram na minha vida particular e não foi bom. Sempre fui isolada. O que existe são relações sinceras, amigo não existe. Foi um amigo que matou meu marido. Mataram de sacanagem, pensavam que ele era rico. A gente tinha dois terrenos na área da casa. Alugamos para ele, ele não queria pagar e foi lá em casa e matou o pai dos meus filhos. Isso foi em 88, três anos depois de comprar nossa casa. Era um cara que tomava café na minha xícara e comia no meu prato. Eu fiquei com filhos pequenos, de oito, nove e dez anos. Acabei de criar eles até dois anos atrás. Agora eu formei o caçula que tem 28.

Onde está esse “amigo”?
Está morto. Está onde merece.

Bendita seja a Web 2.0



Aproveitando o gancho do último post da Ceci, este vídeo dá um panorama compacto e interessante da revolução dos computadores. Desde o editor de texto até a Web 2.0.

Extraído da Caja de Cambios, blog de Martín Grosz.

Guia de entrevistas V - Provocações


A faculdade de comunicação ensina como se fazem programas de televisão. Provocações faz o contrário.

Iluminação, enquadramento, postura, figurino, cenário. Tudo parece apelar para o contrário do que foi padronizado.

Sem contar a atitude do entrevistador, Antônio Abujamra, com sarcasmo demolidor e sutil.

O lado artístico de abujamra é explorado com a leitura de um texto dramático.

A escolha dos entrevistados foge completamente do padrão Jô.


Provocações - quarta-feira às 23h na Tv Cultura.

segunda-feira, 14 de maio de 2007

Bendito seja o computador

Desde que descobri meu interesse pela escritura (há muitos anos já), sempre tentei imaginar como seria escrever nos tempos sem computador. Que pensamento cliché, eu sei. Mas na verdade é porque hoje parei a pensar o fácil que é tudo. Não consigo imaginar o trabalho que seria fazer Curitibocas numa máquina de escrever.

Mesmo sendo da geração dos computadores, da Internet e de tudo isso, gosto da aura daqueles objetos. Dá uma sensação de pureza na escritura. O pensamento se imprime no papel com muita força - até você escuta o som de cada tecla enquanto escreve. Sei lá. O texto é diferente.

Numa época eu até escrevia na máquina de escrever do meu pai. Era verde. Acho que ainda está em casa. Mesmo com o computador ao meu lado, preferia essa experiência. Fiquei frustrada várias vezes ao não conseguir produzir um texto sem erros. Não tem "delete" numa máquina de escrever.

Hoje a coisa é mais rápida. O teclado dá fluidez na escrita. Na tela do computador você vê o texto e modifica as vezes que seja necessário. Esta reflexão parece superficial, mas foi motivada pelo fato de estar o dia inteiro focada no livro - e por conseqüência, frente ao computador por várias horas.

Estivemos no mesmo ambiente mas nos falamos muito pouco. Tanto João quanto eu precisamos de concentração no texto. Esse silêncio me fez pensar o que aconteceria se trocássemos dois computadores por máquinas de escrever. As energias seriam um pouco mais tensas e teríamos um concerto de sons de tanto teclar. Só basta dizer: Bendito seja o computador.

Exercícios ensinam a melhorar diálogos em texto


Este post se deve à troca de conhecimentos entre blogs - uma fofoca cyber cultural do bem. Ou não, como diria Caetano.

O recomendadíssimo blog do Alessandro Martins - livros e afins garimpou 12 exercícios para melhorar seus diálogos no Lendo.org.

No exercício escrito por André Gazola estão expostas uma série de elementos que se aplicam ao gênero da entrevista. A constatação que um diálogo é colocado dentro de um texto literário de maneira artificial é essencial. Sempre lembrando que entrevista é um diálogo (Curitibocas - Diálogos Urbanos, lembra?).

Martins acrescentou a escrita tortuosa de Dalton Trevisan que em certos momentos emula um diálogo transcrito sem filtros para a linguagem escrita.

Acrescento um dado no outro extremo de outra mídia. Os diálogos de filmes, que são absolutamente diferentes da realidade. Alguns diretores do Dogma 95 chegam perto de um diálogo crú. Quanto mais perto da realidade, mas espanta a audiência acostumada aos diálogos harmoniosos dos filmes.

Lembro-me quando meu professor de redação da faculdade de jornalismo ensinou que a imensa maioria das declarações entre aspas não são ipsis literis. Meu castelo ruiu ali. Depois fui entender que o processamento das declarações é a para o bem do leitor.

Entenda então que Diálogos Urbanos é mais do que simplesmente fazer as entrevistas e colocar no papel. Vai mais para lá do além disso, como diria Caetano.

domingo, 13 de maio de 2007

Queremos celeste

Na Argentina existe um provérbio que disse assim: "El que quiera celeste, que le cueste". A tradução literal fica muito ruim, é inútil escrever ela aqui.

O que a frase quer transmitir é que se você quer alguma coisa, vai te custar. Dizer "Ahh, vou fazer um livro" é uma coisa. Agora levar a prática esse sonho é outra completamente diferente.

Curitibocas já tem uns 3 meses de vida. Ele absorve uma fatia grande de nosso dia. Cada etapa demandou muita atenção e dedicação. Fazer os contatos (alguns com mais resistência que outros); pesquisar sobre os entrevistados antes dos encontros; fazer as entrevistas; degravar; editar; contatar possíveis editoras; e a lista continua.

Este "celeste" que nós escolhemos é um projeto muito interessante. O desafio é grande, mas não por isso vamos desistir. Ao contrário. Para esta dupla, quanto mais difícil, melhor.

Les Luthiers, um grupo cômico legendário argentino, mudaram o provérbio para "El que quiera celeste que mezcle azul y blanco". Uma piada argentina que gosto, mas neste caso me desmoraliza. Prefiro a original.

Borboleta 13 trouxe segurança


O primeiro capítulo com Ivo Rodrigues está pronto. Degravado, editado e com história introdutória. Passamos ao capítulo dois, com Borboleta 13. Esta entrevista foi importante para firmar o projeto.

Na primeira entrevista, Cecilia participou pouco. Efigênia não entendia o que a nossa argentina perguntava. A recíproca era verdadeira, já que Efigênia conversava em tom baixo e com muitos rodeios.

Plá, o segundo entrevistado, agradou mais à Cecilia. Eu já torci o nariz. O cantor ficou o tempo todo na defensiva. Respondia por meio de metáforas.

Depois que estas entrevistas foram degravadas, percebemos a riqueza do material coletado e a pluralidade que estes dois vão dar ao conjunto da obra. Fogem àquela estrutura de entrevista que estamos acostumados a ler.

O encontro com Borboleta 13 foi redondo. Sentamos em um fast-food da XV. Cooperou com a entrevista e entendia perfeitamente as perguntas da srta. Arbolave.

Se tomássemos outra negativa com Borboleta, o projeto balançaria feio.

sábado, 12 de maio de 2007

Música da família Rodrigues

Trecho da entrevista exclusiva de Ivo Rodrigues, líder do Blindagem. Versão sujeita à alterações e revisões até a publicação do livro.



E a sua filha?

Ela é DJ. Não sei da onde ela tirou essa. Essa é demais, porque eu não engulo esses troços. Ela diz:

- Pai eu vou tocar em tal lugar.

- Você aprendeu a tocar algum instrumento?

- Não, eu sou DJ. Eu toco os discos lá.

- Porra, mas que merda isso.

É muita cara de pau. Bota os discos e diz que ela toca. E os caras curtem, é o maior sucesso. É bom até para o cara que é dono de bar, em vez de gastar uma grana com uma banda, põe um mané lá pondo disco.

Deve ser uma peleja musical entre ela e os roqueiros da casa.

Quanto a música sim. Eu procuro não me aprofundar muito porque cada um tem seu gosto. É a geração dela. Mas ela gosta muito do Blindagem e de rock. Sempre quando tem shows que eu vou ela, vai comigo. O Ivan gosta de rock anos cinqüenta e sessenta. Eles são assim tipo aqueles mods ingleses. Terninho, magrinhos, tipo The Who assim. Keith Moon assim, aqueles troços. Eu comprei a primeira bateria para ele quando ele tinha 14 anos. Incentivo, assim como meu pai fez comigo.


Teu pai foi quem te levou à música?
Na vida inteira. Eu canto desde os sete anos de idade - recebia carta de todo o Brasil, eu cantava na PRB2, de Curitiba, meu pai levava para cantar em programas de auditório. Tinha fã-clube e tudo. Pediam cabelo meu, que eu cortasse chumaço de cabelo para as fãs. Então eu cantava e ganhava tudo que era prêmio. Tinha voz - meu pai sempre dizia para mim: “Cantor tem que ter voz. Não me venha de Roberto Carlos”.