sábado, 7 de julho de 2007

Convite para viajar

Trecho da entrevista com a artesã Efigênia Ramos Rolim. Versão sujeita à alterações e revisões até a publicação do livro.

O que acha das reações das outras pessoas em relação a sua arte? Tem pessoas que não entendem ainda. Daqui a cem anos eles vão entender que eu queria ajudar a terra. Brinco com o lixo, brinco com a arte. Uns gostam outros não. De repente chega um estrangeiro que diz ser lindo. Uma vez eu paguei um mico. Fiquei vendo um quadro bonito, bem trabalhado, mas era muito risco e rabisco. Aí eu vi um risco de caneta no meio do quadro. Eu falei com um cara que estava atrás de mim: “Olha que coisa engraçada. O homem faz o quadro que é risco e rabisco. Ainda dá um risco de caneta”. Aí ele falou: “Olha, Efigênia, ninguém é obrigado a explicar a arte. Daqui a cem anos você vai descobrir por que o autor deu um risco de caneta”.


A senhora já entendeu aquele risco? Ah, é como as pessoas que passam na minha barraca. É para viajar.


Essa incompreensão te afeta? Antes era o terror. Até eu mesma demorei para descobrir o que é uma arte. É amargo quando alguém abusava. Agora eu falo: "Você não conhece o que é arte, meu anjo. Se você conhecesse, iria valorizar mais". Nem Jesus conseguiu agradar todo mundo. Agora eu declamo essa poesia que você ouviu. Primeira poesia que eu fiz. Daí eu comecei a ficar conhecida. Eu nunca li e nunca estudei, mas dizem a história do homem é essa. Imagina quanta coisa tem no universo. Imagina quanta coisa está lá em cima que Deus quer mandar para o homem. E o homem passa por baixo ou pisa por cima e vai buscar uma coisa grande. Mas se busca uma coisa grande, esquece das pequeninas. Então a gente quer buscar as coisas grandes e nem faz as pequenas. É um dródio.

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