Palavras mal ditas
Assumo toda a responsabilidade da correção das expressões coloquiais nas entrevistas. Logo no início dos trabalhas, Cecilia me perguntou sobre o tema. Defendi que os "tá" fossem substituídos por "está", "tão" por "estão", entre outros. Ela apontou que Playboy tem um "respeito à coloquiaidade do personagem". Na minha opinião, Cecilia foi enganada.
Playboy selecionou as coloquialidades que foram transpostas no papel. Só para citar um exemplo, a maioria dos brasileiros fala em linguagem coloquial "corretamenti". Alguns - por coincidência, os curitibanos - falam a "E" no final, o que chama a atenção dos brasileiros nativos. "Tive" ao invés de "estive" - que confunde bastante no papel -, supressão do "s" nos plurais, são outros exemplos que fariam deste post um daqueles quilométricos.
Ora, se é para "respeitar a coloquialidade", faça no todo. Nada de selecionar a coloquialidade que entra e a que sai. Ilusionismo lingüístico verossímil, não veraz. Ponto feito, agora agrego novo argumento entre os já citados neste blog sobre a razão de não transpor a totalmente a fala no papel. Mais uma vez, apelo para o que acredito conhecer do leitor brasileiro e leitor modelo deste livro.
Neste país, a credibilidade e peso de argumentos apresentados dependem, dentre outros fatores aqui não mencionados, da retórica. "Isso é no mundo todo, desde Sócrates", dirá o afoito leitor que ejacula precocemente em suas cópulas. Não sei com relação a outros países, mas no Brasil o quesito "domínio do idioma" é fundamental para levar a sério ou não o que alguém diz.
Nosso presidente fala "nóis cheguemu", eu sei. Levemos em conta que a classe consumidora de livros no Brasil têm amplos índices de rejeição ao presidente, que perdeu o segundo turno em 89 para Fernando Collor de Mello - hoje tido por qualquer cidadão bem informado, memoriado ou com um pouco de bom senso como um atraso para o Brasil. Sem contar os milhares de outros líderes que perdem pontos por inaptidão na língua.
Freqüento há anos alguns fóruns de discussão na Internet. Quando a inclusão social atingiu seu auge, foi notório o aumento de usuários sem noção de texto escrito. A conseqüente resistência e preconceito dos "old school" também teve seu apogeu. Hoje a situação foi amenizada, mas não raro me deparo com mostras do falso silogismo "não sabe escrever, logo não pensa direito".
Se colocamos as palavras mal ditas (malditas?) tenho convicção que pareceria ao leitor que estamos acobertando erros de alguns entrevistados em detrimento de outros e/ou o descrédito dos que falam pior que outros.
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Justificativa longa, mas na era da comunicação total, não posso deixar passar este fato. Tudo no livro tem um motivo. Alguns são motivos tontos - algum dia, me lembrem de falar dos nomes dos personagens fictícios. Outros, se forem justificados perdem totalmente a graça.
3 comentários:
Estou bem, sim...
Só acho, como você mesmo disse, que eu estava exposta demais na internet...
Obrigada pelo comentário!!!
Beijosss
Essa do "corretamênti" soou meio bairrista, hein... o que dizer dos portugueses, que pronunciam "curação"? Isso não é coloquialismo, é pronúncia. Outra coisa.
Também quebro a cabeça bastate com os coloquialismos. Principalmente em diálogos!
Perfeita colocação, osrevni.
O exemplo de coração, curação e, acrescento, córação é melhor que o "corretamente".
Acho que "tá" é um caso de pronuncia também. Coloco no mesmo balaio as pronunciais coloquiais.
Para não ter dúvidas e não desmerecer ninguém, amenizamos certos termos. Em certos casos, isso faz parte da riqueza do personagem. Paixão, o último entrevistado, usa aumentativos e diminutivos a torto e direito. Com certeza esta característica será preservada.
Saudações
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