sábado, 16 de junho de 2007

O selo de Viriato

Trecho da entrevista do artista plástico Edílson Viriato. Versão sujeita à alterações e revisões até a publicação do livro.

Sua “grande obra” tem mais reconhecimento fora do país. Que outro país te dá reconhecimento? Uma das coisas mais brilhantes da minha vida foi quando eu estava participando de uma exposição no Museu Henie-Onstad Kunstcenter Hovikodden, em Oslo, na Noruega. O Pierrot Vignat, diretor desse museu disse que o meu trabalho tem uma brasilidade, mas é entendido em todo canto do mundo. Não tem cara de cucaracha. Ou seja, não precisa estar com periquito, papagaio de verde amarelo para ser entendido. Os símbolos que eu uso são universais, por isso que fora atraio tanto. Nessa exposição eu tomei um banho de lama e tinta vermelha, segurando um balão azul. Entrei as três da tarde dentro do museu, gritando: “Help me”. Uma senhora toda fina saiu gritando atrás de mim: “I help you”. Foi fascinante. Me emocionou. Eu fui até o meu trabalho que eram vários brinquedos ligados por transfusão de sangue, por mangueiras infestadas de agulhas. Aí eu tirava as 50 agulhas do brinquedo e me espetava. Fiquei parecendo um ouriço sem artifício nenhum. Eu sentia. Cada vez que eu enfiava uma agulha, doía. Eu gritava desesperadamente. E ela gritava desesperadamente. E o povo gritava desesperadamente. O Museu estava lotado. Tinha 27, 28 anos de idade. Tudo aquilo foi fascinante.

Você conversou com ela depois? Ela veio falar comigo, agradecer. Ela veio contar o que era, foi bem interessante.O filho dela morreu na semana anterior de AIDS. Mais maravilhoso foi no outro dia que sai na capa do jornal norueguês. Quando entrei no Teatro Municipal de Oslo, a platéia inteira levantou, aplaudiu e gritou: “Brazilian art, Viriato”. Uma coisa que eu nunca tive aqui.


Gosta de interagir com o público? Muito. É gostoso quando a platéia participa, mas é complicado. Às vezes o público não entende. Eu tenho uma performance, “A noiva negra”, que eu como dois tubos de pasta de dente, uma dúzia de rosas e saio agarrando nas pernas das pessoas vomitando e gritando. Elas ficam horrorizadas. Tem outra que eu distribuo picolé para as pessoas, elas ficam chupando e eu fico transando com um balão. Aí eu saio gritando: “Chupa, chupa, chupa” e eu transando. Aí quando se liga para de chupar e fica escorrendo picolé na mão, que derrete. Aí tem que lamber. Aí eu grito: “Lambe, lambe”. E eu transando. Claro que eu sempre faço dentro de um contexto de arte. As inaugurações das minhas exposições têm sempre algo assim. A última, por exemplo, eu coloquei a Brigitte, uma drag, vestida de serpente, distribuindo um monte de maças pedindo para cair em tentação. Lá dentro tinha outra drag, a Betty Boop, vestida de sado, dando chicotadas nas pessoas. Isso é legal, tem que envolver.

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