quinta-feira, 14 de junho de 2007

Somos todos amigos de Leminski

Dos 17 entrevistados, três se declararam amigos do poeta Paulo Leminski. Ivo Rodrigues, Plá e Hélio Leites contaram que conviveram e tiveram uma grande amizade com o uns dos símbolos curitibanos.

Nos primeiros momentos eu ficava mais impressionada com as pessoas que tinham conhecido ao poeta. Depois destes quatro meses na capital paranaense, já não causa a mesma surpresa.

Até parece que o Leminski conheceu todo o universo artístico da sua época. Foi a relevância que adquiriu depois do morto o que faz a muitos felizmente afirmar: "Eu fui um grande amigo do Paulo Leminski".

O José Castello escreveu o livro "Fantasma", editado pela Record, onde relata a repercussão da morte do poeta na sociedade curitibana. A continuação uns trechos que achei interessantes.


Preste atenção, pois não vou repetir", Maria Zamparo insistiu, apertando-me agora com mais força o antebraço, minhas veias saltando, provocando uma dormência que se transformava em suplício. Foi só nesse momento que, imobilizado, eu a encarei. A notícia que ela viera me trazer cabe, na verdade, numa só frase, uma frase inocente, mas ameaçadora. Foi tudo o que ela disse: "Paulo Leminski não morreu." Palavras reforçadas por um sorriso não muito definido, que ficava entre a desforra e o alívio, o chiado estufando as sílabas.

(...)

Em junho de 1989, toda a imprensa brasileira documentou em detalhes a morte e o funeral do poeta Paulo Leminski, aos 45 anos, depois de longo sofrimento decorrente, diriam os mais ingênuos, da dependência do álcool; agonia que foi só a crosta mais superficial, contudo, de uma rejeição. Até hoje Curitiba cultua esse morto célebre, o acalenta, o reverencia como um santo, já que Leminski acrescenta a essa cidade de barões, viscondessas, desembargadores e sonetistas a nobreza da modernidade. A cidade o cultua, mas, enquanto ele esteve vivo, o desprezou. De modo que, se ele ainda estava vivo como Maria Zamparo agora ousava afirmar (e ela tinha em seus olhos uns vazamentos de luz, me fitava com o fervor das corujas), chegava a hora de prestar contas ao poeta - que santo jamais quis ser. Se estava vivo, era porque havia ressurgido dessa zona de trevas, e especialmente de silêncio, que chamamos de morte, região que nem as metáforas, que são leves e audaciosas, conseguem definir.

***
Paulo Leminski foi uma figura importante no âmbito artístico de Curitiba. Nossos 17 entrevistados de Curitibocas - Diálogos Urbanos também
tem uma atuação relevante na cidade, e o livro será a oportunidade de conhecer-los.

Nenhum comentário: