Caso Estadão: Blogueiros também são vulneráveis
Viu a polêmica campanha do Estadão? É daqui que eu sigo. Mas antes, uma historinha. E de novo sobre RPG.
No final dos anos 90, eu era assíduo da ascendente comunidade de RPG. Os livros em português estavam cada vez mais populares e a internet ajudou aos dispersos jogadores a intercambiar experiências.
Tudo estava bem até uma matéria veiculada no Jornal Nacional. Adolescentes RPGistas levaram o game ao pé da letra e cometeram assassinato em um cemitério do interior de Minas.
A reportagem seguiu o pecado mór das notícias na televisão. Tomou a história excessão e transformou em regra. O tom foi meio forte.
Brutalidades acontecem em diversos âmbitos de atividade humana. Vide futebol.
A reação foi imediata. As listas de discussão da Trails e RPG.br, fórum da Spell Brasil, entre outras comunidades da época se juntaram. Inundaram as caixas da Globo com manifestação de repúdio. E você sabe, na Internet todo mundo é muito macho atrás de um nickname.
Não tenho os dados precisos agora. Nem vem ao caso. Prefiro ser genérico do que contar inverdades. Fato é que o repórter se cadastrou em uma dessas comunidades e deu a resposta. Foi longa, mas em suma ele quis dizer que os RPGistas também são pasíveis de crítica. Reações intolerantes a qualquer crítica ao mundinho perfeito do RPG escancarava o quanto éramos alienados, dizia.
Nosso mundo desmoronou. Sério. Poucos seguiram com as críticas. Tacitamente reconhecemos que RPG, assim como futebol, pode sim ser vidraça para as pedras de terceiros.
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E aí vemos o caso do Estadão.com.br. Fizeram chacota com o mundo blogueiro. Pegaram no pé, tripudiaram. Assim como tudo na sociedade.
Sem contar que estamos tratando de publicidades. Não precisa estudar comunicação para entender que publicidades pegam estereótipos para construir sua mensagem - tem pouco tempo para explicar muita coisa. Logo a gostosa é burra e muito gostosa, o feio é horroroso, o trabalhador é estressado, o pai de familia preocupado, o adolescente é tudo aquilo que eles desejam e repudiam, etc. Não há meio termo em propaganda. É binário, maniqueísta, 8 ou 80.
A frase que até pouco tempo estava estampada no Technorati, maior indexador de blogs da internet, dizia: "70 million blogs... some of them must be good". Perceba que "some" é o contrário de "most". Logo, o modelo aponta para...
Agora imagine se todos os "perdedores" retratados nas publicidades e humorísticos fossem tão melindrosos como os blogueiros. Seria um protesto atrás do outro. Monty Phyton seria impossível. Ainda bem que não existiam blogueiros nos 70.
Ainda sobre marketing, cada produto tem seu diferencial, sua força a ser explorada. O dos jornais é a credibilidade. O Grupo Estado usou nós blogueiros como escada.
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Sem contar que uma das forças exploradas no novo site do Estadão são os blogs dos jornalistas.
Blogs ruins, diga-se, mas isso não vem ao caso.
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